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domingo, 13 de fevereiro de 2011

Órfão dos Filhos.

     Não há nada pior para um pai que a perda de um filho.
Como essa perda, em um período da vida, é inexorável, só poderá ser um pai realizado aquele que digeri-la. Não falo aqui da digestão da morte real, como no filme italiano La Stanza del Figlio, também terrível. Trata-se de algo mais grave, gravíssimo, é a perda do filho causada pela vida.
     De repente, sem saber exatamente como, o pai se dá conta, o filho está ausente. Tornou-se esquivo, arredio, distante. Parece que foi incorporado por uma alma de outro mundo, quem sabe um extraterrestre tornou-se posseiro daquele território.
     O pai olha, o filho olha, e são estranhos. Será esse realmente meu filho ? Foi por ele que esperamos nove meses ?
     Em uma época da vida, os filhos deixam de ser filhos dos pais para serem filhos do mundo. São filhos da escola, da rua, da televisão, dos traficantes, do grupo, das ideologias, menos de um homem e uma mulher que os geraram e para eles teceram sonhos.
     Pai religioso, filho ateu. Pai honesto, filho mentiroso. Pai trabalhador, filho dependente. Pai estudado, filho ignorante. Pai educador, filho mal-educado. Pai patriota, filho mercenário.
     De repente, os pais descobrem sua orfandade e solidão. Se não fossem os cabelos, os olhos, e o nariz, ninguém diria que aquele ser tão diferente é filho. Mais parece uma visita que chega e sai sem conversar. Há um parente distante dormindo no quarto. Ao telefone ele fala com algum país longínquo, numa língua difícil de ser entendida.
     É lógico que nem todos os filhos são assim. Há filhos aos quais os pais identificam não só os traços físicos, mas também seus valores e esperanças. Contudo, geralmente, os filhos dos pais não são realmente seus filhos.
     A verdade dói. Teorias e teoremas pouco ajudam. Muitos pais se culpam, sofrem, tateiam ilusões. Onde foi que eu errei ?
     Os pais somente entenderão os filhos quando compreenderem que eles são 20% seus filhos e 80 % filhos do mundo. Pais apenas podem assegurar-se de garantir a sobrevivência de seu DNA. Filho não é um animal domesticável, a quem se ensina a fazer cocô em lugar determinado, ou a dar a patinha quando se pede. filho é uma pessoa, um mistério inescrutável, livre, inserido no mundo. filho é um rio se formando num descampado. Filho é uma tempestade nascendo no deserto. Ou como diz K Gibran, uma flecha viva arremessada ao vento.
     Pais, fiquem tranquilos. Esse período de orfandade é passageiro. Qualquer hora seu filho olhará em seus olhos e dirá: " Pai, mãe. Vocês são o máximo!". Sem mais nem menos, uma ressurreição da identidade acontecerá na sala. Será um domingo de sol.
     Se os pais deram o melhor de si pelos filhos, podem ter certeza do reencontro das vidas e do fim da orfandade. Dizer que nossos filhos são filhos do mundo pode ser uma armadilha retórica. Os pais não podem esquecer que o mundo não é uma coisa por si só subsistente. O mundo é o que dele se faz. dizer que nossos filhos são filhos do mundo não desmente nossa paternidade responsável. Afinal, os filhos sempre  herdam o mundo feito pelos pais. Uma hora os elos se encontram. 
     Ser pai é digerir a perda e temperar a espera.
     
     Do livro: Por que os homens não Voam?
     Pablo Morenno.

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