Posso sentir o vento, o cheiro da terra molhada, o perfume das flores de laranjeira. Posso ouvir o barulho da chuva no telhado, e a doce sensação de paz e segurança que eu sentia.
Na época, só a morte me pareceu ser uma coisa muito feia, triste. Um dia qualquer de minha infância, olhando da porta da cozinha de minha avó vi passar no pátio, um esquife preto enorme, e com poucas pessoas acompanhando. Era um homem conhecido que morava nas terras. A história dele era muito triste. Havia passado quando jovem, muitos anos em um presídio, e nunca se soube o por quê. Achei aquela cena triste, feia, assustadora , e que não fazia parte do meu mundinho. Aquela imagem ficou gravada como sendo o final da vida. O fim de um homem estranho que não fazia mal a ninguém, mas que metia medo pela prisão do passado.
Quanta coisa a gente vive sem perceber a riqueza do momento. Queria poder agora voltar,não no tempo, mas a sentir todo aquele encanto e magia que acontecia a minha volta. Poder andar livre pelos campos, tomar banho de chuva, sentar na relva bem verde e macia,olhar para o céu muito azul e pensar, Deus existe e esta aqui agora. Nenhum perigo rondando, sem ladrões,bandidos, nenhuma ameaça por perto.
Esta bem claro que a maldade sempre existiu, mas não ali, não no meu mundo de infância.
Agora fico a me perguntar; o que foi feito com a minha imensa tranquilidade ? Fui roubada e nem sequer percebi. Foram retirando tudo aos poucos para que eu não percebesse. Agora sei que tudo é mutável em nossas vidas.
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