CRIEI ESTE BLOG PARA DIVIDIR MEUS SONHOS E FATOS REAIS. COMO NÃO SEI ESCREVER POUCO, QUASE O TRANSFORMEI EM AUTO AJUDA.LONGE ESTA ESTA PRETENSÃO.É MEU PRIMEIRO BLOG POR ISTO OS ERROS NA TENTATIVA DE ACERTAR. PEÇO DESCULPAS POR MINHAS FALHAS.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Tempo

      Sou do tempo em que tristeza era curada com um pedaço de goiabada com queijo, mas hoje não. Qualquer tristezazinha já tem de ser medicada com comprimidos que entorpecem a alma. Só porque está um pouco ansiosa, fato normalíssimo na vida humana, já foi diagnosticada como deprimida. Tristeza agora tem nome ?
      Isso é falta do que fazer. Se lavasse uma mala de roupa por dia, certamente estaria bem cansada para dormir a noite toda, mas não. São três ou quatro empregadas. Passa o dia todo sem colocar a mão numa louça suja. Deixo pra lá !
      Eu andei plantando umas mudas de alecrim na porta da cozinha e agora preciso esperar o tempo da terra. gostava de plantar roseiras em dias de sexta -feira da Paixão. Nunca vi mulher mais resignada. O ofício de ser  mulher era aprendido e ensinado nas pequenas coisas. Broa de fubá com amendoim era sua especialidade. - Forno é o lugar por onde a gente prende o marido! - dizia. eu levei tempo para entender, mas os sabores são laços que garantem a conjugação do amor eterno. Não há amor que resista a um arroz requentado. Coisa mais triste é ver pingar água no arroz encaroçado na panela fria. O bom do amor é sentir o cheiro do alho no óleo quente, o barulhinho do arroz refogado, dourando junto da cebola, só para dar gosto. Doura o arroz, dura o amor.
      Um arroz feito na hora é um tijolo na reforma do mundo. A cozinha é o lugar do amor eterno. Mora nos potes de tempero,nas latas de quitanda fresca. nos tabuleiros de bolos caseiros e pães artesanais.
      Sou da época em que o fogão á lenha era o coração da casa. A labareda e seu poder de manter os filhos ao redor da mesa. A vida era artesanal. A felicidade se escondia numa panela de ferro com carne e abobrinha. A roupa branca quarando no varal, o cheiro de broa de milho. vida emoldurada de matéria simples, quase silenciosa.
      Essa vida moderna não tem nada de artesanal. Tudo é feito ás pressas. Antes a vida demorava para acontecer.
      Recordo-me. Chuvas torrenciais que nos permitiam tardes de prazeres delicados. Observar a metamorfose das flores em frutos era satisfação sem preço.
      Sou do tempo em que jardim não era artigo de luxo. Cada família cultivava o seu, Hoje arrumaram até paisagistas para darem jeito nas feiuras do mundo. cada um deveria cuidar da feiura mais próxima. eu cuido.
      Acho que estou ficando triste, ou deprimida, não sei.- Rosilene, me traz um pedaço de goiabada com queijo, minha filha !
      Antes prevenir, que remediar.

Do livro : Mulheres de Aço e de Flores. Fabio de Melo.

Um comentário:

Irene disse...

Gente, adoro este padre. Neste texto ele descreve minha vida em família. Belos tempos.